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Carta aberta a Arthur e Wilson Lima


Por Raimundo de Holanda

06/04/2020 18h49 — em
Bastidores da Política


  • Confinar dentro de casa quem tem fome é fazer da casa do cidadão um mini campo de concentração. Não é a ideia dos senhores, bem sabemos. Essa medida, desacompanhada de ações de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade ou risco psicossocial, pode salvar a cidade e o Estado de uma pandemia, mas vai gerar no médio prazo um problema social gravíssimo

Com a ampliação das medidas que restringem a circulação de pessoas na cidade de Manaus e no Estado do Amazonas, o dilema é trocar o pão pela segurança da casa. Mas uma casa sem pão não abriga ninguém, nem conforta ninguém, nem une ninguém. Abala a confiança da mulher, o amor dos filhos, a esperança de futuro.

Sair as ruas em meio a essa pandemia é um risco. Mas o preço do pão não pode ser o preço da liberdade, porque para conquistá-lo é preciso procurar pessoas, conversar com pessoas, vender a força do  trabalho. É dai que resulta a segurança de que a vida vai continuar, que a casa ainda é o melhor lugar para se voltar ao final do dia. Pão e liberdade andam juntos.

Neste momento de confinamento, só os pobres sofrem - porque eles não tiveram condições de encher o carrinho do supermercado e abastecer a geladeira. O pão do pobre é conquistado no dia a dia e o confinamento, embora necessário, é uma tragédia humana sem precedentes. Muitos poderão morrer de fome.

Como governantes, os senhores não podem pensar apenas em deter a pandemia via restrição da liberdade de circulação. É preciso que compreendam que Manaus e o Estado do Amazonas concentram níveis de pobreza alarmantes.

Confinar dentro de casa quem tem fome é fazer da casa do cidadão um mini campo de concentração. Não é a ideia dos senhores, bem sabemos. Mas essa medida, sem contrapartidas ou ações de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade ou risco psicossocial pode salvar a cidade e o Estado de uma pandemia, mas vai gerar no médio prazo um problema social gravíssimo.

No final, o resultado poderá ser ainda mais trágico, com o número de infectados infinitamente maior. Subnutridos e famintos são grupos de risco que os senhores precisam proteger agora.

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ASSUNTOS: Amazonas, arthur virgilio, carta aberta, COVID-19, Manaus, pandemia, wilson lima

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.