Manaus e o poder público em tempo de tragédia
- O cenário é o mesmo a cada inverno em Manaus: inundações, desespero, protestos. E uma pergunta, também repetitiva, paira no ar, sem resposta: "onde está o poder público?”
A questão é complexa e não pode ser resumida à responsabilidade da Prefeitura de controlar o crescimento de uma cidade que começa na beira dos barrancos e se espraia nos igarapés. É todo um complexo de instâncias de poder, com deveres - de legislar - a Câmara Municipal- o Executivo de tomar decisões e o Judiciário de avaliar demandas da sociedade, inclusive por moradias.
O problema é que na hora de construir casas dentro de igarapés ou na beira de barrancos conta a ausência das autoridades, a falta de uma severa fiscalização e de ações de despejo que têm que ser imediatas e não são.
O resultado é o que se viu neste sábado: casas sendo arrastadas pelas águas, famílias em desespero.
A culpa é de quem? Das autoridades que fizeram ao longo dos anos e ainda fazem vista grossa à construção de casas em áreas insalubres e perigosas . Mas também de parte da população que resolve correr riscos em nome da necessidade de moradia, além de uma indústria de invasões que alimenta o poder das organizações criminosas que dividem Manaus em duas cidades - a que vive uma pretensa ordem e a outra submetida ao medo e as armas.
É hora das autoridades pararem de apontar culpados. É hora do poder público - e poder público é o Legislativo, o Executivo e o Judiciário - agir de forma unida, na busca de uma solução para o grave problema da falta de moradia.
O que não cabe são ataques de políticos a um problema que tem relação com eles, não só porque cabe a eles melhorar a legislação, mas também porque alguns incentivam abertamente as invasões ou são coniventes com elas.
Nem a prefeitura de Manaus pode se furtar das responsabilidade de agir de forma rigorosa contra a expansão da cidade da forma como vem ocorrendo, nem o Judiciário de avaliar demandas que chegam a partir de ações da Defensoria Pública. Hora de agir harmonicamente em razão de um problema sério que tende a se agravar mais ainda no próximo inverno.
ASSUNTOS: chuvas Manaus, inudanções Manaus
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.