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Substituta de Janot deve montar equipe experiente em desvendar esquemas de corrupção

Por Agência O Globo

15/07/2017 18h07 — em
Brasil


Foto: Reprodução

Na sabatina de quarta-feira, senadores festejavam cada declaração garantista da subprocuradora-geral Raquel Dodge sobre delação premiada, prisão preventiva, preservação de sigilo e respeito à dignidade humana. De fala mansa e gestos contidos, Raquel dará um cavalo de pau na Lava-Jato a partir de 17 de setembro, quando assumir o cargo? A julgar pela equipe que ela está montando, talvez seja muito cedo para investigados comemorarem a saída de cena do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

O discurso moderado, bem ao gosto do mundo político, contrasta com o perfil da equipe que a futura procuradora-geral está montando. Entre os nomes cotados para assessoria direta de Raquel na Lava-Jato em Brasília estão os procuradores regionais Raquel Branquinho, José Alfredo e Alexandre Espinosa. O trio fez fama ao comandar as investigações sobre o mensalão e montar a estrutura da denúncia que, mais tarde, levaria à prisão as antigas cúpulas do PT e do Banco Rural, entre outros políticos e executivos.

Pelo desenho traçado por Raquel Dodge na fase final da campanha, Raquel Branquinho deve assumir a coordenação do grupo responsável pelas investigações, segundo disse ao GLOBO um interlocutor da subprocuradora. Antes do mensalão, Raquel Branquinho já tinha no currículo uma série de casos importantes, entre eles a prisão do ex-banqueiro Salvatore Cacciola.

O coordenador da equipe hoje é o promotor Sérgio Bruno, que ficou conhecido por liderar, no Ministério Público do Distrito Federal, um dos mais audaciosos grupos anticorrupção do país antes mesmo de a Lava-Jato se impor como tema obrigatório da agenda política nacional.

— Raquel Branquinho e José Alfredo são bons de investigação. Se confirmados nos cargos, eles não vão dar sossego ao pessoal da Praça dos Três Poderes — afirma um procurador que conhece bem os colegas de trabalho, embora não tenha votado na subprocuradora.

Numa outra frente, Raquel Dodge deve convidar também o subprocurador Luciano Maia para ser o vice-procurador-geral. Maia é conhecido pela atuação em causas indígenas e outras questões relativas a direitos do cidadão. A ideia de Raquel seria turbinar áreas do Ministério Público que, para ela, teriam ficado em segundo plano por causa do tsunami Lava-Jato e outras grandes investigações sobre corrupção. Entre essas áreas estariam meio ambiente, direitos do cidadão e fiscalização da qualidade dos serviços públicos.

Maia é primo do senador Agripino Maia (DEM-RN), mas, segundo colegas, tem atuação independente. Na condição de vice, caberá ao subprocurador conduzir, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), as investigações abertas contra governadores a partir da Lava-Jato, especialmente a recente leva de inquéritos solicitados com base na delação de executivos da Odebrecht. Governadores ocuparam lugar central nas estruturas partidárias. Mas, mesmo assim, acabaram ofuscados pelos inquéritos abertos no STF contra o presidente Michel Temer, ministros, deputados e senadores.

Raquel, que ficou em segundo lugar na lista tríplice, foi indicada em tempo recorde por Temer, numa suposta tentativa de esvaziar os poderes de Janot. A indicação teve o apoio do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de políticos tradicionais, alguns deles investigados na Lava-Jato. O apoio foi explicitado na votação acachapante que ela obteve na CCJ e no plenário do Senado. Mas, segundo um procurador alinhado com a futura procuradora-geral, Raquel não se sente comprometida com os os grupos políticos que chancelaram a indicação dela.

— Não haverá pagamento de fatura — garante o procurador.

Para outros procuradores ouvidos pelo GLOBO, o cenário é de incerteza, especialmente sobre a Lava-Jato. Eles entendem que Raquel terá dificuldade em compatibilizar as fortes expectativas geradas pela candidatura dela no Congresso com o perfil da equipe que está montando. As partes se movimentam em direções opostas. O tempo tornará o conflito ainda mais evidente.

— Resta saber como ela vai harmonizar o discurso que fez para fora, para o Congresso, com a escolha da equipe, que atende a demanda da corrente interna favorável ao aprofundamento das investigações — pondera um outro procurador.

Uma das alas adversárias da futura procuradora-geral entende que o maior risco à Lava-Jato seria a ampliação da agenda do Ministério Público Federal. Procuradores deste grupo avaliam que, com a abertura de diversas frentes de trabalho, a Lava-Jato poderá perder a prioridade que tem hoje no gabinete de Janot.

O ex-procurador-geral Roberto Gurgel, que esteve na sabatina de Raquel, entende que não haverá mudança de curso no destino do Ministério Público.

— Serão só mudanças pontuais — afirma.

A agenda de Raquel terá peso decisivo no jogo político, sobretudo na definição de candidatos a presidente da República. Os principais presidenciáveis foram atingidos pelas delações de executivos da Odebrecht e da JBS, entre outras grandes empresas.


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ASSUNTOS: Lava Jato, procuradora, raquel dodge, Brasil

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