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Conselho da Polícia Civil se coloca contra PM registrar ocorrências, e governo recua

Por Folha de São Paulo

22/04/2024 22h30 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em reunião extraordinária realizada nesta segunda-feira (22), o Conselho da Polícia Civil de São Paulo se colocou contra a possibilidade de a Polícia Militar elaborar os chamados TCOs (Termos Circunstanciados de Ocorrência), destinados a registra r crimes de menor poder ofensivo, classificando com uma medida ilegal, conforme delegados ouvidos pela Folha que participaram da reunião.

A Secretaria da Segurança da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), que na última quinta-feira (18) havia informado que daria aval à PM para fazer os TCOs, recuou após pedido dos delegados e anunciou a criação de um grupo de estudo para analisar melhor o assunto.

Em um vídeo distribuído nas redes sociais, o próprio secretário Guilherme Derrite (Segurança) falou sobre a criação do grupo.

Ainda conforme o secretário, o grupo, formado por dois delegados, dois oficiais da PM e dois peritos da Polícia Científica, vai decidir qual é, para a população, o melhor caminho a ser adotado pelo estado: o TCO PM ou o BO (boletim de ocorrência) unificado, lançado em 2022 e também busca reduzir o retrabalho das corporações.

"Portanto, argumentos como, olha, a Polícia Militar vai receber atribuições de investigação, invadindo a competência da Polícia Civil, não é o nosso desejo e a gente não vai deixar que isso aconteça", disse o secretário.

A invasão da competência da Polícia Civil foi o principal argumento sustentado pelos delegados do Conselho para se colocarem contra a PM a elaborar o TCO. Além disso, segundo delegados ouvidos pela reportagem, os policais civis entenderam que a manifestação do STF (Supremo Tribunal Federal) admitindo que PMs elaborem tal documento não vale para o estado de São Paulo, apenas para Minas Gerais.

Além disso, argumentaram os membros do Conselho, as novas leis aprovadas no Congresso, como a Lei Orgânica da Polícia Civil, tornaram essa medida ilegal, por ser classificá-la com atribuição única dos delegados de polícia.

A possibilidade de PMs realizarem o TCO revoltou os delegados porque ocorreu em uma semana em que Derrite fez discursos em que colocava a PM como protagonista no combate ao crime organizado, ao lado do Ministério Público. Posteriormente, com a reação negativa, o secretário disse que estava referindo a todas as polícias e não só à PM.

"Então, senhores, a quem interessa criar desunião entre as polícias de São Paulo? Eu tenho certeza absoluta de que a população não espera isso dos senhores, de nós, e apoia o combate efetivo que está acontecendo no estado de São Paulo, especialmente no combate ao crime organizado", disse Derrite no vídeo.

A gravação divulgada pelo secretário Derrite foi gravado ao lado do delegado-geral Artur Dian, e de outros diretores integrantes do Conselho.

Em 2009, o então secretário da Segurança Antônio Ferreira Pinto proibiu a PM de elaborar os Termos Circunstanciados, na primeira tentativa da corporação de assumir essa fatia dos casos criminais que, desde 1995 (data de criação da lei), pertence à Polícia Civil.

Conforme resolução da época, os testes realizados demonstraram uma piora "no relacionamento entre as instituições policiais", que tinha sido "afetado de forma sensível, com crescentes atritos, advindo posturas que prejudicam o bom andamento do serviço policial, em detrimento do interesse público".

Na semana passada, quando a Secretaria da Segurança ainda dava o aval à PM, o comandante-geral da PM, coronel Cássio Araújo de Freitas, divulgou mensagem no grupo de coronéis dizendo que o TCO da PM era uma conquista da população paulista.

Segundo ele, era "evidente que contribui para a eficácia e eficiência" de todas as demais instituições que "o sistema de proteção da população".

O oficial conclamava os oficiais a combater uma "campanha de desinformação em curso", "com os mais diversos objetivos individuais", "mas que convergem sempre para fragmentar todas as instituições".

"Peço que estejam alertas para enfrentar com seriedade e respeito esta narrativa falsa. Os nossos argumentos são a verdade, os números e resultados positivos e o Dever de Eficiência previsto na Constituição da República", escreveu.

Por fim, ele disse que as polícias nunca estiveram tão próximas. "Estamos na mesma luta contra o crime e os criminosos que matam, roubam, furtam, estupram e barbarizaram nossa população. Eu acredito fortemente nisto, acreditem também! Vamos Vencer!", finaliza a mensagem.


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