Os acampamentos de bolsonaristas começam a ser desmontados. Em Belo Horizonte a própria prefeitura se encarregou de limpar a área em frente ao comando do Exército. Muitos já haviam ido embora, retomando a vida. Vão sentir falta do que falava mais do que qualquer  ideologia - o churrasco, o chopp e o refrigerante de graça. Não eram extremistas. Eram pobres, famintos, desinformados e com alguma esperança.

Há uma grande semelhança entre essa parcela do bolsonarismo com os “sem teto”, que Lula sempre manobrou, ou os “sem terra”, que o atual presidente incentivou invadir propriedades privadas no seu primeiro governo, ou antes dele, quando ainda era um líder sindical em ascensão.

Essa gente não ameaçava a democracia. Pobres de informação, facilmente manobráveis, eram presas fáceis de uma direita radical, que se concentra em gabinetes ar-refrigerados e nas bolhas da internet, que tem renda, que aposta na divisão do País. Mas ainda assim, uma minoria.

Bolsonaro nunca foi líder. Se metade do eleitorado votou nele, foi por rejeição ao PT. E esse imenso contingente não era bolsonarista. Ao contrário, renegava o extremismo, mas, de outro lado, rejeitava o retorno de Lula.

Não havia e não há, portanto, uma ameaça à democracia, mas há uma crescente divisão do Brasil, provocada menos pelos seguidores de Bolsonaro e mais por medidas tomadas para preservar- vejam só - a democracia.

Um paradoxo. Por isso que medidas radicais  tomadas pelo Judiciário e pelo atual governo  começam a provocar na sociedade o sentimento de que, na verdade,  o País está caminhando para uma ditadura, com dois comando: um no Judiciário e outro no Executivo. Até quando esses dois extremos vão se tolerar - é outra questão.

Os verdadeiros aliados do bolsonarismo, vejam só a falta de coerência, estão em lados que se dizem opostos. E de fato, aparentemente estão. Mas ao errarem os alvos, ao radicalizarem, ao se excederem, ao não procurarem  conter o dissenso,  atraem mais e mais opositores ao lulismo-petismo e mais e mais o questionamento ao sistema de governo que eles dizem defender. Lamentável!