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Um mês após operação da polícia, rua do centro de SP segue como destino de celulares roubados

Por Folha de São Paulo

24/04/2024 18h31 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A rua Guaianases, onde um imigrante senegalês morreu ao cair de um prédio e uma confusão terminou com a Polícia Militar atirando bombas de efeito e disparando balas de borracha na noite desta terça-feira (23), abriga o principal destino de celulares roubados e furtados na cidade de São Paulo.

No mês passado, investigação da Polícia Civil apontou que uma quadrilha especializada nesse tipo de crime movimentou de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões. O epicentro do esquema fica na em uma quadra da Guaianases, no centro da cidade.

Moradores da rua dizem que ainda percebem indícios da atividade criminosa no local, um mês depois da operação. A reportagem ouviu de uma comerciante e de um garçom, que moram entre as ruas Vitória e Timbiras, que até hoje há movimento de pessoas em bicicletas no período noturno, suspeitos de entregarem ali aparelhos que foram tomados nas redondezas. Eles pediram para não ter o nome divulgado.

Um homem de origem sírio-libanesa apontado como chefe da quadrilha foi preso em março durante uma operação contra o grupo. Além disso, inquéritos abertos por mais de uma delegacia de polícia na região central apontam que imigrantes africanos, principalmente vindos de Senegal, atuam no comércio ilegal de telefones roubados e furtados. Os aparelhos são revendidos no Paraguai e em países da África, segundo as investigações.

Nesta terça, uma confusão entre grupos de imigrantes e a PM começou após a queda do homem senegalês de um prédio na Guaianases, onde funciona uma pensão. Testemunhas disseram que ele era perseguido pela Polícia Militar no momento da queda.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou, em nota, que policiais militares foram acionados para atender a uma ocorrência de uma pessoa que caiu de um prédio e, durante o socorro prestado pelo Corpo de Bombeiros, houve tumulto após algumas pessoas atacarem a PM.

Testemunhas contam, no entanto, que a queda ocorreu quando os policiais já estavam no prédio. Uma moradora relatou que os PMs teria abordado um jovem na portaria, e entrado no prédio depois de liberá-lo. Quando os policiais desceram, segundo essa moradora, um deles teria falado a frase "o lixo está morto".

A síndica do prédio e outros moradores dizem que os policiais entraram no prédio sem apresentar mandado de Justiça, e que essa prática é recorrente no endereço.

Em um vídeo nas redes sociais, outro morador disse que os agentes já chegaram ao local jogando bombas e atirando. Não há informações oficiais sobre o que causou a queda do homem.

Imagens registradas por moradores da região mostram que ao menos um imigrante senegalês foi detido e levado algemado em uma viatura da Polícia Militar durante a ação na rua.

AO MENOS 2.790 CELULARES FORAM ACHADOS NA RUA EM 2003

A rua Guaianases é comumente apontado por vítimas que tiveram seus celulares subtraídos e tiveram acesso à localização após serem atacadas por assaltantes em bicicletas ou pela chamada gangue dos quebra-vidros, que ataca veículos parados no trânsito para agir.

Há relatos de que isso continua a acontecer, mesmo após a operação da polícia no último mês.

Até novembro do ano passado, ao menos 2.790 celulares roubados ou furtados haviam sido recuperados em prédios que ficam na mesma rua, segundo o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais). Tablets e computadores subtraídos também foram encontrados nesses endereços.

De acordo com as investigações, ao menos quatro estabelecimentos no mesmo quarteirão, entre as ruas Aurora e Timbiras, eram usados por criminosos para armazenar celulares roubados e despistar os policiais. No mês passado, vizinhos relatavam que uma padaria, dois bares e uma bicicletaria abrem apenas durante a noite, quando os ladrões aparecem e se passam por frequentadores.

Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que, após o movimento intenso de integrantes da chamada gangue da bicicleta durante a noite, que vão ao local negociar os aparelhos furtados, é comum a rua amanhecer com dezenas de capas e chips de celular jogados pelo chão, relatam moradores.

Uma investigação de 2022 encontrou tabelas de preços de acordo com o modelo roubado. Um iPhone 13, por exemplo, que custa a partir de R$ 5.499 na loja virtual da marca Apple, rende R$ 800 ao criminoso. Um iPhone 7, mais antigo e já fora de linha, R$ 150.

Segundo a Polícia Civil, os receptadores levam aparelhos às centrais de desbloqueio montadas dentro de apartamentos de 33 metros quadrados em um prédio residencial na rua Guaianases. De lá, os celulares são repassados a revendedores de peças ou encaminhados a países da África, onde não há restrição do número de registro dos aparelhos roubados.


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